
Eu não conheço grandes filósofos, fugi da escola no 1º ano do 2º e vim para Portugal, mas sempre odiei a escola, sempre estudei em escolas públicas e o ensino no Brasil, que Deus me perdoe, é uma merda, eu ficava sentada na cadeira da escola com o sentimento de tempo perdido dentro de mim, salvo alguns professores que ainda estavam empolgados com a arte de leccionar, os restantes aplicavam sempre o método do livro com textos e questionários, era um saco, eu queria mais e não tinha.
Por isso fugia da escola e ia para a biblioteca, mas nunca me interessei por filosofia, aliás até pouco tempo atrás confundia filosofia com sociologia.
Repeti a 7ª série três vezes porque, na terceira passei, porque tava puta com a escola e não ia mesmo, lia mil vezes a minha colecção de livros da Agatha Christie, na verdade era da minha mãe, que eu lia sempre desde os meus oito anos, e todo final de ano a directora da escola, que era amiga da minha mãe, ligava e dizia: "Márcia manda a Caroll vir, ela é inteligente, ela faz uma prova e a gente passa ela."
Nunca fui, se me recusava a ir as aulas, imagina fazer uma merda de prova que era como eu assinar um contrato de incopetência.
Quando passei para o 2º, não havia vaga em escola nenhuma, e eu fiquei ainda mais revoltada, um dia estava na fila da secretaria de educação, ou qualquer coisa parecida, e tinha uma mulher a gritar um discurso de que "os jovens devem votar porque são o futuro desse país", eu, que estava com uma vontade enorme de vomitar o que tinha preso na garganta, soltei um: "Eu não voto, tenho 17 anos e estou prestes a completar 18, e só vou tirar o titulo de eleitor para fazer o meu passaporte para ir embora dessa merda de país!", a mulher horrorizada disse "Mas minha filha você é o futuro do país", de novo isso tia sinceramente, eu que já estava mesmo de saco cheio gritei bem alto para até o ministro da educação ouvir: "Olha o futuro do país aqui implorando uma vaga na escola para poder estudar, por favor seu ministro me deixa estudar, me deixa ter um futuro decente que é para quando eu crescer eu mudar o país e a sua aposentadoria ser bem rechonchuda, ah fala sério cara!".
Com aquela confusão ganhei uma vaga numa escola que ficava quase 3hs da minha casa, e que era dominada pelos traficantes da área, ia todo dia para escola morrendo de medo de alguém me pedir para virar "aviãosinho", e quando o meu passaporte ficou pronto, fugi do Brasil para nunca mais voltar, nunca fui buscar meu titulo de eleitor.
Mas voltando a filosofia, que eu não estudei, o pouco que conheço de Nietzsche, é o que li no livro, que ainda não terminei, "Quando Nietzsche chorou", e nem sei se é verdade porque o livro é ficção, mas enfim o que conheci dele não gostei, o cara era uma mala sem alça, orgulhoso pra caraca, com a mania que seria o melhor do mundo, eu sempre achei que pessoas orgulhosas que não tem coragem de pedir ajuda e a mania que são o "futuro de alguma coisa", na verdade são uns fracos que por alguma acção de sorte conseguiram fazer alguma coisa decente, mas isso é a minha filosofia, caramba já to filosofando.
Mas tem uma frase do homem no raio do livro, que também não sei se é mesmo dele, que me deixou com vontade de arrancar os meus próprios cabelos, "Transforma-te em aquilo que tu és", fiquei a pensar...se eu sou um assassino, violador, ladrão, filho da puta, deverei realmente me transformar naquilo que sou? Assumir meus pecados e crimes e seguir uma vida indigna para outros mas honesta para mim?(honesta ao menos comigo mesma).
Qual é o limite de ser realmente quem somos? qual é o limite do certo e errado? hum...eu só sei uma coisa, a culpa de eu ter fugido do Brasil, de ter desistido dos meus sonhos, não é de ninguém, é apenas minha, é que eu tinha tantos sonhos que nunca soube por onde começar, e acabei por não fazer nada, e ao ficar parada eu mesma me condenei a uma sentença.
Não, eu não conheço grandes filósofos, eu não sei citar frases célebres de gente que só foi reconhecida depois de mortos, tudo o que eu sei eu aprendi nos livros e na vida.
Quando eu sai de casa o meu pai disse-me "Filha eu queria poder realizar todos os seus sonhos sem você precisar ir para longe de mim." Eu respondi com a grande filosofia da minha vida... "Pai, você me deu a maior herança que um pai pode dar para um filho, a consciência e a curiosidade, essas duas coisas são mais valiosas que qualquer fortuna da terra, e com elas eu vou conquistar o mundo."
Enquanto eu não conquisto o mundo e estou longe de casa, eu vou seguindo os conselhos desse filosofo bigodudo, vou me "transformando em aquilo que sou", e o mais engraçado, é que isso já fazia parte de mim, e esse homem célebre, como muitos outros, não me disse nenhuma novidade.
Eu até queria desistir da filosofia, mas descobri que ela faz parte do meu dia a dia, por isso ando a procura de algo que me encante, que me surpreenda, que me deixe de olhos arregalados.
Curiosa...sempre.
P.S.:To puta, não acertei a porra de um nº no euromilhões ontem.
1 comentário:
Oi, Carol
Sabe, muitas e muitas vezes me questiono se os filósofos sabiam viver, ou se cheios de conflitos, viviam a pensar e escrever.
A mesma coisa são com os religiosos ao extremo que fala de paz, de perdão, de amor fraterno...mas na convivência diária não conseguem por em prática.
Pelo que me parece você fez acontecer, corre atrás, vai em busca, descobre, se descobre....e com isso vive a vida, adpatando e criando suas próprias teorias, regras, filosofias...essa frase teve ressonância em você, por você ser o que é.
beijos
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