sábado, 5 de dezembro de 2009

A menina cor de rosa



Para Isabella...

Laços de cetim, sapatilha de bailarina, óculos gatinha, Cinderela...
Bella, Bebela, Isabella...
Esta noite eu sonhei com você, me olhava, com olhos grandes de curiosidade de quem ainda não conhece as verdades sobre o mundo, e eu sabia que dentro de sua pequena cabecinha estava formulada uma pergunta.
Como num filme de ficção cientifica, falamos telepaticamente, mas eu não tinha resposta para a sua pergunta, existem respostas que escapam de nossas mãos.
Mas você continuava a me encarar, olhos nos olhos, como se dissesse: "Eu sei que você sabe!!!"
Sei não...quem dera saber...quem dera ter todas as respostas do mundo para te oferecer com um lindo laço de cetim...
Olha para mim, eu sou pequena, o universo é enorme, existem respostas que você terá de encontrar sozinha.
Mas você continuava a me olhar, de dentro para fora, e derrepente comecei a me sentir como um gigante, ok, eu consigo encontrar a tal resposta.
A verdade é que você transformou o meu mundo numa festa rosa, brincadeira e pelúcia para todo o lado, e a esperança, de poder te dar todas as respostas, a verdade é que você agora é o meu mundo, o meu ponto alto do dia é quando a minha barriga se contorce como se estivesse com dor, mas não é não, é só a Isabella brincando.
Da próxima vez que você me encarar, te faço uma careta para você morrer de rir, e te canto uma musiquinha do Jack para você dormir, e te digo bem baixinho no teu ouvido: "Você é a resposta para todas as minhas perguntas..."

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Quando eu pensava em você, era algo distante e improvável.
Era como algo que colocamos numa lista de "coisas que quero fazer antes de ter 30 anos", mas que na verdade sabemos que nunca o faremos.
Não por falta de vontade, mas por falta de coragem, porque existem sonhos que não saem do papel.
Então você veio, assim, puf, como um passe de mágica, e eu fiquei baralhada pois você era a última parte da minha lista, e como ainda não tinha feito nem metade dela, ficou tudo confuso.
Hoje quando penso em você, sinto que não a mereço, que não sou a fortaleza que havia planeado ser quando você chegasse, nem o exemplo que gostaria que você seguisse, muito menos suficiente capaz para te dar o mundo.
Acho que vais ter de me ensinar, me ensinar a ser forte, a ser um exemplo, a ser capaz...
Eu juro, por você...eu consigo.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

The reason

Ella estava feliz, andava pela rua com um sorriso digno de uma estrela na calçada da fama, não era uma felicidade vulgar, era a felicidade que Ella ansiava há anos...
Estava tão embriagada de alegria, que nem notou a cigana a se aproximar...
"Cuidado menina, a felicidade não é algo que se deva expor..." disse a cigana a agarrar a mão de Ella.
Ella puxou sua mão das mãos sujas da cigana e a encarou com duas rugas na testa...
"Não sejas parva, a felicidade é algo que devemos sempre tatuar na face, para nunca a perdermos de vista!!!"
"Oh minha tola menina, não sabes que a felicidade atrai a inveja??? vais ver...todo esse teu precioso tesouro, será roubado de ti, quando menos esperares..." A cigana proferiu a sua praga e seguiu o seu caminho, e deixou uma Ella cheia de medo para trás...
Desde sempre Ella tinha sido supersticiosa, e decidiu ouvir a cigana, guardou toda a felicidade dentro de si, todo aquele tesouro que tanto tempo andara a procura, guardou no fundo do seu peito, em um lugar de onde ninguém o poderia roubar.
Mas a cigana estava errada, ou quase errada, é verdade sim que a felicidade atrai a inveja, mas também é verdade que ela foi feita para ser estampada na nossa cara e brilhar através de todos os nossos dentes.
Com o tempo Ella esqueceu do seu tesouro, voltou a sentir a amargura daqueles que procurão que uma razão sem mesmo saber o porque, voltou a ser metade.
Foi quando Ella deixou de acreditar na felicidade, e começou a esperar todos os dias pelo pior, porque achava que se estivesse preparada a dor seria menos, foi aí que o seu tesouro lhe foi arrancado do peito com todas as raízes...
A verdadeira razão é sempre aquela está que mesmo a frente dos nosso olhos, olhos que não querem ver...

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Preciso de férias...
Não daquelas férias "tele programadas", quando as pessoas viajam para algum lugar turístico, tipo o Algarve, pensando em descansar, curtir a praia e o verão e blá blá blá, tudo isso é muito lindo, o problema é que outras centenas de pessoas tiveram a mesma ideia, e este pequeno paraíso é mesmo assim...pequeno, e transforma-se num enorme inferno, principalmente para os habitantes locais.
Não...preciso de férias tipo daquelas onde se mergulha num Vídeo Clip de uma música qualquer dos anos 60, com muita paz e amor, e um campo cheio de flores, e eu lá feito uma maluca cheia de LSD, saltando no meio das flores.
Preciso de férias...
Principalmente da minha mente, que teima em procurar razões e soluções, uma parte de mim não aceita o mundo como está e ainda acredita em algum pingo de humanidade na humanidade, otária.
Nestes momentos é que eu entendo os surfistas, fico me imaginando no mar, em cima de uma prancha a espera da onda perfeita, sem pressa, cantarolando o Jack na cabeça, apreciando o mar azul, claro que uma parte de mim vai estar pensando: "se a porra de um tubarão aparecer agora eu estou fu...", mas em grande parte este momento será de relax...
A verdadeira verdade, é que eu estou cansada, cansada do mesmo, cansada do tédio, cansada das pessoas chatas e nervosas que invadem o meu mundo e me deixam assim: Chata e nervosa.
To cansada de conhecer gente que na hora do vamos ver, revelam a verdadeira personalidade, feia e inútil, de gente que diz que me ama pela metade, quando eu sou grande e inteira.
Eu nunca tive paciência para lutar, para correr atrás de nada, porque no fim...sei lá, no fim tudo vai virar uma grande merda mesmo.
E eu preciso de férias...
Férias deste mundo nojento, onde conquistam o nosso amor e depois nos jogam fora como uma peça de roupa velha, até com as roupas velhas eu tenho mais carinho.
Agora eu tenho de proteger o meu mundo com mais força, porque agora eu não estou sozinha...e as vezes me pergunto o que eu vou dizer a minha filha em relação ao amor...acho que vou lhe dizer "o único verdadeiro amor incondicional, é o amor uma mãe sente pelo seu filho."
O resto é o resto...
P.S.: Na quinta-feira eu tive o meu momento num campo de flores sem pensar em mais nada, estava eu deitada no consultório do médico, com ele a passar uma meleca gelada na minha barriga, e a esfregar uma máquininha muito louca no meu ventre, e num écran apareceu algo que eu nunca imaginei amar tanto, o meu bebé brincando e saltando, dentro de mim, o verdadeiro milagre da vida, correndo o risco de parecer mais uma dessas mães babadas...naquele pequeno momento eu tive as férias que tanto desejava, porque nada nesse mundo tinha importância, só aquele ser em preto e branco brincando e saltando dentro de mim.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O retorno

Ella andou algum tempo a caminhar no deserto, como Paulo Coelho, num livro qualquer, desmaiou sem perceber que estava faminta e com sede.
Ficou três longos dias inconsciente, e quando finalmente abriu os olhos, achou que havia morrido e estava no céu, sensação que durou apenas 3 segundos, até ela lembrar que não existe nem céu, nem inferno e muito menos limbo.
Apesar de não ter morrido e de não estar em nenhum paraíso, Ella sentia-se diferente, simplesmente Ella não era mais Ella, era a Outra, a Estranha, a Caroll, era todas as mulheres do mundo unidas em seu ventre.
Ellas carregavam a vida, e por esta razão...finalmente havia chegado a paz...
Não é que todas as respostas tenham sido respondidas, é que simplesmente elas deixaram de ter importância, há um novo motivo para lutar, há um novo alguém para não desapontar, Ellas...não se deixaram abater, Ellas carregam a força de um universo, dentro do seu ventre.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Linhas roxas

Para cada acção há uma reacção, para cada sentimento há um sentimento contrário, para cada verdade há uma mentira...
Nada é perfeito, nada é eternamente perfeito, a perfeição acaba no momento em que os seus pés tocam o chão, e você descobre que quando voa alto...a queda também é alta.
Assim como todo super-herói tem um arqui-inimigo...a felicidade também tem o seu misto de dor.
A dor veio acompanhada de três pares de pequenas linhas roxas, como se fosse um grande letreiro a piscar gritando: "Fim da linha."
Neste momento o perfeito, o diferente...o mágico...tornou-se...igual as 6 biliões de pessoas espalhadas no mundo.
Tenho um revolver nas minhas mãos...e ele diz-me:"Ou você mata...ou morre."
E o meu herói...transformou-se no meu arqui-inimigo...as palavras que saem de sua boca...tornaram-se falsas...o mundo perdeu a cor.
Três pares de pequenas linhas roxas...transformaram-me na pessoa acompanhada, mais sozinha do universo.
O ultimo fio de esperança foi partido...
Fim da linha.

domingo, 24 de maio de 2009

Despedida


Um dia você acorda e percebe que o certo ou errado está por sua conta.
A vida é feita de escolhas, cada segundo é determinado por uma decisão, por mais vulgar que ela seja.

O caminho do bem e do mal já foi traçado muito antes de você nascer, as regras já foram ditadas, cabe a ti decidir segui-las ou não...
Todas as consequências dos teus actos ficaram expostas em ti, e em ninguém mais...

De tudo o resto, a única lei que interessa nesta selva, é a da felicidade e respeito, seja feliz, mas respeite os sentimentos de outros.
Não existe nenhum sábio no mundo que consiga definir o poder de um amor, lutar, ser determinada, e desistir na hora certa, é saber amar também.

Milhões de pessoas passam do nosso lado, algumas machucam, algumas são indiferentes, algumas transformam-te, algumas...simplesmente fazem o fluxo de sangue do seu corpo aumentar, e ainda existem aquelas que são essenciais para a sua sobrevivência...

Cada uma, ou mal ou bem, deixam em ti uma marca, um pedaço de alma, e novamente...cabe a ti saber separar o "trigo do joio".

E é chegado o tempo de crescer, de acalmar, é chegada a hora...da tempestade virar dia de sol, estendida na areia da praia absorvendo todo o calor do mundo, sem pressa...
Ella...o mundo encantado de Ella está de férias, pois Ella precisa aprender a viver sem seu Elle, "toda Ella precisa de um Elle", mas...existem "Elles", que não podem ser de nenhuma Ella... mesmo quando o seu coração lhe pertence...
No amor não existe certo e errado, só existe amar incondicionalmente, se entregar sem barreiras e fronteiras, Ella sabe disso, Ella vive para isso, mas...neste momento simplesmente não consegue.

Não existe mágoa, não existe dor, existe a saudade, existe o amor, Ella segue o seu caminho...até o dia que o seu caminho a seguira.
Porque quando abres a porta da magia, ela jamais voltara a estar fechada. Ella...segue o teu coração, ele é o seu órgão pensador...
Partindo...com o bolso cheio, jamais vazio...

sábado, 23 de maio de 2009

Ella encantada



Nem sempre o céu é o paraíso, nem sempre o inferno é um castigo.

A astróloga vestida com roupas estranhas diz no programa da tarde que o ano de 2009, para o signo de peixes, será um ano de mudanças, e que os piscianos não gostam de mudanças. (?)

Ella comeu 7 passas no ultimo dia do ano, pulou 7 ondas, e fez 7 pedidos...

MUDANÇA, MUDANÇA, MUDANÇA, MUDANÇA, MUDANÇA, MUDANÇA, MUDANÇA PUTA QUE PARIU!

Ella não gosta de calmarias, Ella gosta de tempestades, e odeia a bonança que vem a seguir.

"Dá-me fogo e eu faço um incendio"

Ella é piromaníaca, gosta de ver o fogo a arder, a queimar as células e átomos que fazem de um ser biliões de almas que transitam pelo mundo, Ella é assim, não transita, transforma.

Ella não é igual, Ella não é normal, Ella é a liberdade engarrafada.

"Sou o que sou, e mesmo assim não sou nada, eu sou tudo"

Ella atravessou a avenida da liberdade sem olhar para os lados, dezenas de carros travaram de imediato, colidindo um ao outro, Ella estava serena no meio da avenida, sorrindo de canto de boca, Ella adora tragédias.

Dentro da sala de cinema, Ella via imagens de vidas misturadas, vidas contadas, enrolava um fio de seus longos cabelos ruivos, e sonhava ser a protagonista daquela cena, nem todo filme tem final feliz.

"Mudar...preciso de inspiração, o tédio consome meus neurónios"

No pequeno écran no seu quarto, Ella devorava as falas dos personagens de sua série preferida...

"Nesse momento há 6 biliões, 470 milhões, 818 mil, 671 pessoas no mundo.
algumas estão fugindo assustadas.
algumas estão voltando pra casa.
algumas dizem mentiras pra suportar o dia.
outras estão somente agora enfrentando a verdade.
alguns são maus indo contra o bem.
e alguns são bons lutando contra o mal.
seis biliões de pessoas no mundo,
seis biliões de almas...
e ás vezes tudo que nós precisamos é apenas uma!"
(One Tree Hill)

Porque as vezes um coração divide-se em dois...

quarta-feira, 13 de maio de 2009

A perfeição na 1ª pessoa

"Birds flying high you know how I feel..."
BOMBOMBOMBOMBOMBOM!!!!! (Marteladas na porta).
-Amanda abre a porta agora!!!!
"...Sun in the sky you know how I feel..."
-Ela já está ali a horas... Amandaaaaaaaaaa, é a sua mãe, abre essa porta agora é uma ordem!!!! (hahahahaha, uma ordem...que medo).
"...Reeds drifting on by you know how I feel..."
-Não adianta gritar com ela Selma, Amanda é o papai...abre a porta filha... (Desespero e culpa em forma de voz paterna, nojo).
-Se ela está assim dessa forma, é porque você nunca gritou com ela! Olha para essa menina Vicente! ela está se destruindo, pelo amor de Deus faz alguma coisa! ("A culpa não é minha, a culpa é sua, você é que falhou na criação dela"...a mesma ladainha de sempre).
"...Its a new dawn it's a new day its a new life for me!!!!"
-Amanda eu vou contar até 3, se você não abrir a porta eu vou deita-la abaixo, está me ouvindo???? (YES SIR!!!).
-Chega eu vou arrombar a porta...BOMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM!
-Oi família, "...And I'm feeling good..."

Uma semana depois...

Hospital profile:
Paciente: Amanda Lisboa
Idade: 18 anos
Altura:1,75
Peso:45kg
Dados clínicos:
Transtorno alimentar e distúrbio bipolar. (Anorexia não é doença é estilo livre e eu não tenho distúrbio bipolar, tenho alterações de humor, faltou escrever aí: PROMISCUA E SUICIDA).

Uma semana nesse inferno...uma semana com a puta de uma sonda me enfiando lixo no organismo, eu tentei tirar, juro que tentei, mas amarraram os meus braços, e de hora em hora a vaca da enfermeira vem me enfiar "remédios" na veia.
Haloperidol, Dipirona, Plasil...a lista é enorme, MERDA, MERDA! Eu já tenho 18 anos! deveria poder mandar na minha vida, ME DEIXEM MORRER EM PAZ!
Estão a me transformar num monstro e não há nada a fazer...
A minha mãe fica ajoelhada na minha cama, segurando o seu velho terço, e orando para ninguém, Mãe acorda não existe ninguém lá em cima...idiota.
O meu pai desistiu, não conseguiu ver a sua menininha com tanto potencial de vida cheia de potencial para a morte, eu não o culpo, não é uma cena bonita de se ver, é por isso que muitos viram a cara, quando eu desapareci das festinhas, comecei a andar com roupa de inverno no mais caloroso verão do Rio de Janeiro, raspei a cabeça e tatuei uma enorme borboleta no meu crânio despido, quando eu comecei a sumir, literalmente, a única reacção das pessoas foi virar a cara, é mais fácil tapar os olhos para o que nos assusta do que enfrentar o monstro.
Escuto o médico falando baixinho com a minha mãe: "nós já fizemos tudo o que podíamos, agora é com ela, se ela não reagir..."
A minha mãe apenas me olha...ela sabe que eu não vou reagir, ela também desistiu.
Quando você abraça a morte, ganha uma eterna companheira, nunca mais estarás sozinha...
Finalmente eu sou livre, ela me pegou no colo e eu me sinto a voar, "eu te libertarei", ela cumpriu com a promessa...
"And I'm feeling good"

The end

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Perfeição



"I want a perfect body, I want a perfect soul..."
Creep, Radiohead

Meu nome é Amanda, e eu não me sinto bem.
Orkut profile:
Nome: Anamanda Mia
Idade:17 anos
Altura:1,75

Peso:60kg (OBESA)

Meta:45kg
Meu diário

Segunda-feira
Terceiro dia de LF, não posso desistir, estou quase lá, eu sinto...tem sido muito difícil enganar o pessoal daqui de casa, eles já andam desconfiados e controlam tudo o que eu como...hoje eu me sinto bem...
Meus pecados:
2 maças
2 litros de água

3 ducolax


Terça-feira
Gorda, Gorda!

Me pesei hoje, 4 dias de LF...resultado: e apenas 1kg a menos!
Juro que eu não aguento mais!
Vou partir para o NF, chega! Hoje não me sinto bem...
Meus pecados:
1 pacote de tridente sem açúcar
2 maços de Marlboro ligth
2 litros de água

2 Ducolax




Quarta-feira
Eu me corto por fora para tentar matar o monstro que tenho aqui dentro, a cada corte me sinto mais livre, a beleza liberta, vejo as meninas magras na praia, elas não se preocupam se estão olhando para elas com nojo, é claro que não, olham para elas com inveja, eu olho para elas com inveja, elas são fo
rtes...eu sou fraca...
Alguém bate na porta do banheiro, escondo a gilete no meu canto secreto, puxo as mangas da camisa comprida para baixo, apesar do calor de 40º lá fora, lavo o sangue das minhas mãos, olho no espelho...hoje eu me sinto bem.

Meus pecados 3 litros de água
2 maços de marlboro ligth

1 pacote de trident sem açúcar

3 cortes no braço esquerdo
1/2 garrafa de vodka
Quinta-feira
Hoje a morte sentou ao meu lado, estendeu a sua mão e me fez um convite, "vem comigo, eu te libertarei", disse ela, fiquei tentada...

O pó caiu do saquinho para cima da mesa, um minuto depois estava dentro de mim, hum...sim, eu vou conseguir, eu sou forte, eu posso, ninguém vai me destruir, eu sou invencível.

Mais! me dá mais! Estou caída no chão do banheiro, do meu lado uma poça nauseabunda de um liquido amarelo que saiu do meu estômago, a liberdade! a liberdade diante dos meus olhos!
Tenho o computador comigo, vejo as fotos das minhas inspirações, Lindsay Lohan, Anahi, Nicole Richie, Amy... "ninguém disse que era fácil ser uma princesa".

GO ANA, GO!

Hoje os meus pecados foram
muitos, e eu não me sinto bem...

Sexta-feira
O dia D, e 4kg mais magra, visto o vestido azul de alcinhas, os meus cabelos estão a cair na minha mão, "faz parte do caminho para a perfeição", digo a mim mesma.
Ele vai estar lá, na festa, eu estou bem...eu estou magra, repito mil vezes na minha cabeça.
Lá estou eu, quase perfeita, 56kg, falta tão pouco para a perfeição, eu vou conseguir!
Ele entra no salão, oh meu Deus ele é um príncipe, e eu só quero voltar a ser a sua princesa, ele vai reconhecer o meu sacrifício
, vai me achar forte, ele vai me amar.
A sua mão não está vazia, os seus entrelaçam outros dedos, os dedos dela, mais bonita, mais feliz, mais forte, mais...magra...
Olho para o espelho e ele quase se parte de tanto que grita GORDAAAAAAAAAAAA, FRACAAAAAAA, LIXOOOOOOOOOOO!!!!

Saio a correr dali, me tranco no quarto, tenho o vestido azul sujo da gordura das batatas, os dedos cheios de chocolate, eu estou nojenta, corro para o banheiro e mio, mio tanto que desmaio, acordo sei lá quanto tempo depois mergulhada na minha liberdade, pego a gilete no canto secreto e acrescento mais 3 cicatrizes no braço, escuto Nina Simone até ador
mecer, eu não estou nada bem.

To be continued

Epitáfio



Há um tempo atrás, eu tinha sempre o mesmo sonho, ou pesadelo, uma mão chamava-me e eu a seguia, subia um lance de escadas e quando chegava no topo, o chão desaparecia, e eu caia, tentava segurar-me em algo mas não conseguia, caia e caia sem nunca chegar ao chão.

Acordei varias vezes a gritar desesperada, porque no sonho eu sentia uma angustia tão grande, que me decepava a alma.
Nunca entendi o significado dos sonhos, se são apenas o lixo do nosso subconsciente, ou pensamentos e desejos transformados em imagens, ou ainda se realmente são algo místico, se são a premonição de algo que está por vir.
Quando eu tinha esses sonhos, eu ainda era uma menina ingénua, no sentido de que acreditava que toda a humanidade era inocente até que me provassem o contrário.
E hoje em dia várias vezes uma "mão" estendeu-se em forma de convite, e eu, sempre optimista, sempre a agarrei, e a verdade é que toda vez que estava no "topo", eu cai, não dizem que quanto mais alto, maior é a queda?
Mas a vida é feita de escolhas, não somos obrigados a nada, temos o livre arbítrio de continuar ou partir, verdade? meia verdade, existem sentimentos dos quais não são fáceis de fugir, "terás de ser muito determinada", foi o que disseram-me uma vez, mas será que valhe a pena? esses sentimentos...será que eles são tão bons assim, para nós?
"Você tem o dom de sentir as coisas com o coração", isso não é um dom, é uma maldição!
Cada dia que passa tenho mais certeza que é
karma, de certeza eu fui algo muito mal na minha vida passada, e tenho a impressão de que numa delas eu fui o Jack Estripador, por isso agora sou condenada a sentir-me aos pedaços.
Meu espírito está demasiado cansado dessa vida, sinto-me a correr no meio de uma maratona que nunca chega ao final, eu corro e corro e nunca atravesso a fita amarela.
Os abismos sempre fizeram parte da minha vida, e como tudo em mim, ou eu caio a 100% ou nunca subo as escadas, acontece que eu nunca consegui fugir de um sentimento.

Não tenho paraquedas, as minhas asas estão partidas, e o meu coração transformou-se num buraco negro.

Estou a cair...quem vai apanhar-me?

domingo, 10 de maio de 2009

A queda



Cai com tanta força que as minhas asas partiram-se, andei trôpega como um bêbado, não, como um jovem soldado que vai para a guerra com a vontade de mudar o mundo, e fica preso numa emboscada, a ver os seus amigos a serem desfeitos por bombas e tiros de metralhadoras, e quando se dá conta ele também está ferido, amputado, a faltar um pedaço, mas na verdade aquele pedaço já o deixou de pertencer no momento que decidiu ir para guerra.

Olhei para as minhas asas, em cada tentativa de as mexer o meu corpo respondia com uma dor alucinante, toda eu estava dormente, minhas mãos formigavam, não conseguia enxergar, tinha uma névoa branca a tapar-me a visão.
Tentava lembrar porque havia caído, e da onde, mas não conseguia recordar de nada, a ultima coisa que tinha na cabeça era o momento que acordei, sem saber quem eu era, sem saber onde estava, sem saber porque tinha asas.
Nem sabia se era normal ou não ter asas, mas uma vozinha dentro de mim dizia que eu era diferente, diferente de que? de quem? eu não lembrava de nada, e nem conseguia ver nada, nem sabia como era a aparência da minha face.
Pouco a pouco a minha visão foi ficando mais nítida, estava no deserto, olhei para trás e deslumbrei uma enorme montanha, "foi dali que cai, mas se eu tenho asas, porque não voei?", olhei para as minhas mãos, estavam vazias, "onde está?", "Onde está o que?", eram apenas fragmentos, mas viam e iam tão rápido que o meu corpo ficou tonto.
Tentei levantar-me, não eram só as asas que estavam partidas, uma das minhas pernas também, não consegui, fiquei ali estendida no meio da areia do deserto, com a certeza que ou morreria de fome, ou de sede, ou dos meus ferimentos, ou de todos eles juntos.
Algo dentro de mim, dizia que se eu lembrasse que eu era, o que fui fazer ali, e porque não voei quando cai da montanha, estaria salva.
Fechei os olhos, o que foi agradável pois o sol estava a dar-me dor de cabeça, concentrei-me, não conseguia ver nada, era como se a minha mente fosse um filme sendo rebobinado, via as imagens a passar tão rápido que não conseguia acompanhar o enredo.
Quando voltei a abrir os olhos o sol já tinha ido embora, no seu lugar estava a lua e milhares de estrelas, dei um nome a cada estrela que estava no céu, e cada nome que aparecia na minha cabeça dava-me um sensação de déjà vu, foi então que surgiu o nome... Ella, o meu nome, mas estava partido, assim como as minhas asas, assim como a minha perna, faltava um pedaço...
O meu longo cabelo encarnado misturava-se com a areia, e cobria o meu corpo desnudo, "porque estou nua?", "sempre estiveste nua...", "quem respondeu? quem és?", "não te lembras de mim? é pior do que pensava...", "onde estas? eu não estou a ver-te...", "isso minha menina porque estás a olhar de fora para dentro, quando deveria olhar de dentro para fora, as estrelas, a lua, o deserto... quem tu julgas que és?".

Não consegui responder a voz, não sabia quem eu era, a única coisa que lembrava é chamava-me Ella, e na verdade nem tinha certeza que esse era meu nome, tinha a sensação de que a voz é que chamava-me assim...
Olhar de "dentro para fora..."
O que ela quis dizer com isso... Mexi as minhas asas, e o meu corpo não respondeu com dor, "estranho...", tentei levantar-me, e desta vez consegui, os meus cabelos tapavam-me o corpo como se fosse um lençol de seda, "vermelho...", até isso parecia ter sido resultado da vontade da voz...

Caminhei, os meus pés descalços pisavam a areia... "espera! cadê a areia?eu já não estou no deserto?", não, não estava, pisava em algo parecido com algodão, eram nuvens...eu não estava a caminhar, estava a voar!
"Agora já lembras?", "sim, eu cai porque quis cair, porque a dor era tanta que não encontrei outra solução se não me deixar ir...", "e onde estás agora?", "eu...eu morri...?", "não criança tonta, achas que eu a deixava ir?", "é claro que não, tu amas-me...", "não é só isso, tu és parte de mim, assim como eu sou parte de ti, se tu te fores, eu ficarei incompleta...".
Sentei-me no alto de uma nuvem, e olhei para baixo, já lembrava quem era, sabia quem era a voz, e sabia porque sempre estive nua, mas não entendia porque o meu nome estava incompleto... "Porque toda Ella precisa do seu Elle...", respondeu a voz. Sim...foi por isso que cai, eu o perdi..."não te preocupes Ella, vai ficar tudo bem, não é a primeira vez que cais...".
"Mentirosa, sabes que desta vez foi diferente...", "sim, mas a cada queda, ficas mais forte, e essa...respondeu a pergunta que nos fazíamos a tempos...", "sim, chegou a hora não foi?", "exacto menina, chegou a hora...".
A ideia de voltar ao deserto não agradava-me, mas eu e a voz havíamos deixado algo enterrado em cima da montanha, tínhamos de regressar, como o soldado que vence a guerra e volta para os braços dos amados, são e salvo, mas com a alma dilacerada.
Havia chegado a hora...de voltar para casa.

sábado, 9 de maio de 2009

Filosofia para boi dormir



Eu não conheço grandes filósofos, fugi da escola no 1º ano do 2º e vim para Portugal, mas sempre odiei a escola, sempre estudei em escolas públicas e o ensino no Brasil, que Deus me perdoe, é uma merda, eu ficava sentada na cadeira da escola com o sentimento de tempo perdido dentro de mim, salvo alguns professores que ainda estavam empolgados com a arte de leccionar, os restantes aplicavam sempre o método do livro com textos e questionários, era um saco, eu queria mais e não tinha.

Por isso fugia da escola e ia para a biblioteca, mas nunca me interessei por filosofia, aliás até pouco tempo atrás confundia filosofia com sociologia.

Repeti a 7ª série três vezes porque, na terceira passei, porque tava puta com a escola e não ia mesmo, lia mil vezes a minha colecção de livros da Agatha Christie, na verdade era da minha mãe, que eu lia sempre desde os meus oito anos, e todo final de ano a directora da escola, que era amiga da minha mãe, ligava e dizia: "Márcia manda a Caroll vir, ela é inteligente, ela faz uma prova e a gente passa ela."
Nunca fui, se me recusava a ir as aulas, imagina fazer uma merda de prova que era como eu assinar um contrato de incopetência.

Quando passei para o 2º, não havia vaga em escola nenhuma, e eu fiquei ainda mais revoltada, um dia estava na fila da secretaria de educação, ou qualquer coisa parecida, e tinha uma mulher a gritar um discurso de que "os jovens devem votar porque são o futuro desse país", eu, que estava com uma vontade enorme de vomitar o que tinha preso na garganta, soltei um: "Eu não voto, tenho 17 anos e estou prestes a completar 18, e só vou tirar o titulo de eleitor para fazer o meu passaporte para ir embora dessa merda de país!", a mulher horrorizada disse "Mas minha filha você é o futuro do país", de novo isso tia sinceramente, eu que já estava mesmo de saco cheio gritei bem alto para até o ministro da educação ouvir: "Olha o futuro do país aqui implorando uma vaga na escola para poder estudar, por favor seu ministro me deixa estudar, me deixa ter um futuro decente que é para quando eu crescer eu mudar o país e a sua aposentadoria ser bem rechonchuda, ah fala sério cara!".

Com aquela confusão ganhei uma vaga numa escola que ficava quase 3hs da minha casa, e que era dominada pelos traficantes da área, ia todo dia para escola morrendo de medo de alguém me pedir para virar "aviãosinho", e quando o meu passaporte ficou pronto, fugi do Brasil para nunca mais voltar, nunca fui buscar meu titulo de eleitor.

Mas voltando a filosofia, que eu não estudei, o pouco que conheço de Nietzsche, é o que li no livro, que ainda não terminei, "Quando Nietzsche chorou", e nem sei se é verdade porque o livro é ficção, mas enfim o que conheci dele não gostei, o cara era uma mala sem alça, orgulhoso pra caraca, com a mania que seria o melhor do mundo, eu sempre achei que pessoas orgulhosas que não tem coragem de pedir ajuda e a mania que são o "futuro de alguma coisa", na verdade são uns fracos que por alguma acção de sorte conseguiram fazer alguma coisa decente, mas isso é a minha filosofia, caramba já to filosofando.
Mas tem uma frase do homem no raio do livro, que também não sei se é mesmo dele, que me deixou com vontade de arrancar os meus próprios cabelos, "Transforma-te em aquilo que tu és", fiquei a pensar...se eu sou um assassino, violador, ladrão, filho da puta, deverei realmente me transformar naquilo que sou? Assumir meus pecados e crimes e seguir uma vida indigna para outros mas honesta para mim?(honesta ao menos comigo mesma).
Qual é o limite de ser realmente quem somos? qual é o limite do certo e errado?
hum...eu só sei uma coisa, a culpa de eu ter fugido do Brasil, de ter desistido dos meus sonhos, não é de ninguém, é apenas minha, é que eu tinha tantos sonhos que nunca soube por onde começar, e acabei por não fazer nada, e ao ficar parada eu mesma me condenei a uma sentença.
Não, eu não conheço grandes filósofos, eu não sei citar frases célebres de gente que só foi reconhecida depois de mortos, tudo o que eu sei eu aprendi nos livros e na vida.
Quando eu sai de casa o meu pai disse-me "Filha eu queria poder realizar todos os seus sonhos sem você precisar ir para longe de mim." Eu respondi com a grande filosofia da minha vida... "Pai, você me deu a maior herança que um pai pode dar para um filho, a consciência e a curiosidade, essas duas coisas são mais valiosas que qualquer fortuna da terra, e com elas eu vou conquistar o mundo."

Enquanto eu não conquisto o mundo e estou longe de casa, eu vou seguindo os conselhos desse filosofo bigodudo, vou me "transformando em aquilo que sou", e o mais engraçado, é que isso já fazia parte de mim, e esse homem célebre, como muitos outros, não me disse nenhuma novidade.
Eu até queria desistir da filosofia, mas descobri que ela faz parte do meu dia a dia, por isso ando a procura de algo que me encante, que me surpreenda, que me deixe de olhos arregalados.
Curiosa...sempre.
P.S.:To puta, não acertei a porra de um nº no euromilhões ontem.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

A morte da Outra




A verdade é algo sobrevalorizado, acho eu...
Desde que o mundo é mundo alguém sempre está em busca da verdade, o verdadeiro Deus, a verdadeira religião, a verdadeira resposta para a pergunta "Deus realmente existe?", a verdadeira origem do universo, a verdadeira razão de existir, o verdadeiro amor, verdades e mais verdades, e mil perguntas sem resposta...
Uma infinidade de homens sábios morreram sem encontrar a sua verdade, e a única verdade sobre estes é que os verdadeiros homens sábios só ficam famosos depois de mortos...
- Eu só quero saber a verdade, segredou-me a Outra no meio da noite.

- Porque? O que vais fazer com ela?
- Não sei... eu só sei que tenho de saber...
- Preocupas-te demasiado Outra, relaxa e aproveita a vida...
- Não, enquanto eu não souber a verdade, não descansarei.
- Então minha outra parte, prepara-te para uma vida de desespero...

Era uma manhã de sábado como todas as outras, como neste dia da semana entro mais tarde no trabalho, deixo-me dormir sempre um pouquinho mais, entretanto neste dia acordei com um grito.

- Ela está morta, ela está morta!!! (Era a Estranha a gritar)

- Ella está morta??? como assim? (Gritei de fora para dentro assustada)
- Não, não é a Ella que está morta, ela...a Outra!!!
- Oh Meu Deus ela matou-se!!! (Ella a chorar)

- Porque? (E a chorar)

- Caroll...tu sabes... ( A estranha)

Sim eu sabia, desde aquela conversa no meio da noite, a Outra reservou-se no submundo da minha mente, não consegui aceder a ela, era como se tivesse encontrado uma parte de mim a qual eu não tinha autorização para entrar.
Deus sabe o quanto eu tentei falar com ela, mas simplesmente não me ouvia.

A busca pela verdade a tinha deixado cega, não conseguia ver a beleza da vida incógnita.

O desespero acabou por tomar conta da Outra, ao ponto de ela dar a fim a própria vida, naquela manhã de sábado, horas antes, a Outra ingeriu uma pequena dose de veneno, pequena mais fatal, onde a encontrou? não sei, talvez em alguma história perdida dentro de mim.

O fato é que o veneno não fez logo efeito, e a Outra ficou horas estendida no escuro da minha mente, pensando em tudo aquilo que estava a deixar para trás, e sentiu-se livre.

A verdade, é que a verdade é uma prisão, é viciante, ninguém se satisfaz com meia dose de verdade, queremos sempre mais e mais, a minha Outra morreu de overdose, a overdose da vontade de saber...

O meu corpo cheira a rosas mortas, o meu corpo cheira a luto, não foi só a Outra que morreu, o meu desprezo por saber a verdade também, eu devo isso a ela, eu devo isso as minhas outras duas partes, as que restaram, a verdade...eu preciso saber da verdade...
Uma de cada vez...

segunda-feira, 4 de maio de 2009

A caçadora de borboletas

Foto LiliRoze


A mente de uma criança é um circo de portas abertas onde qualquer magia é possível.

Ella adorava quando os pais a deixavam na casa da avó paterna, não por gostar da avó, ela era uma tirana que roubava o tempo de tudo, "não é hora disso, não é hora daquilo", até a poesia ela conseguia transformar num filme mudo a preto e branco.

Mas do lado da casa da avó, havia um terreno abandonado, onde todas as espécies de flores resolveram nascer, especialmente a Rainha Flor, mas isso já é outra história, e Ella passava a tarde toda a correr no meio de todas as margaridas, rosas, gerânios, orquídeas, e infinitas cores femininas, e masculinas, que tanto alegravam o seu correr...

Entretanto Ella desde pequena sempre alimentou o sonho de conhecer outros mundos, de correr em outros jardins e brincar no meio de flores que ela ainda não sabia o nome...

Naquela tarde o seu tio havia contado a história de uma menininha que ficou coberta de pólen e centenas de borboletas pousaram no seu corpo minusculo, com o bater de suas asas a levaram para longe dali, a intenção do seu tio era a assustar, pois ela sempre parecia que tinha ido para um rali no deserto quando voltava para casa, mas o tiro saiu pela culatra.

Ella pensou, e pensou, com a sua enorme sabedoria de seis anos, como faria para ter o corpo coberto de pólen, foi quando teve a ideia, em vez de correr pelo terreno florido, neste dia Ella rolou no meio das flores, esfregava as pétalas na sua pele, e sorria, um sorriso rasgado, um sorriso cheio de esperança, do seu plano dar certo.

Uma hora depois, tinha os joelhos ralados, os braços arranhados dos espinhos e galhos das flores, e o vestido amarelo castanho da terra, mas na face suja e encarnada, o sorriso triunfante de alguém que conseguiu o que queria.

Sentou-se no meio das flores amassadas e despetaladas, e esperou que as borboletas pousassem no seu corpo, uma ou outra de vez em quando apareciam, mas nada de centenas de asas a leva-la para longe, para outros mundos...

Ficou ali sentada horas, até a sua avó gritar a plenos pulmões pela milésima vez o seu nome, levantou-se sacudindo a saia do vestido, cruzou os braços em volta do corpo, e quando chegou perto do seu tio deu-lhe um chute na canela, ele virou-se para ela assustado, mas quando viu as lágrimas a rolar pela sua face de menininha grande, enterneceu-se e perguntou o que se passava.

Ella lhe contou o resultado do seu plano, e disse que jamais voltaria a acreditar na magia, o seu tio, que ficou completamente aborrecido da sua história mais ter encantado Ella do que assustado, olhou para aquela pequena com alma de gigante, e disse:

"Ella podes ir a qualquer lugar do mundo, basta fechar os olhos e voar..."

Durante muito tempo seguiu o conselho de seu tio, mas conforme foi crescendo, voar de olhos fechados foi ficando cada vez mais complicado, e o mundo que tinha vontade de conhecer mais distante...

Toda vez que via uma borboleta a voar, sorria em silêncio lembrando da pequena Ella sonhadora, a Ella que acreditava que centenas de borboletas a levariam a voar para um lugar mágico...

Então um dia Ella o conheceu, sentiu o amor a brotar da raiz de seu seu pé até os seus cabelos, o seu corpo transformou-se num caule, e o seu coração num botão de flor, a flor amor, e as borboletas enfim vieram, alojaram-se no seu estômago, e com o bater de suas asas, voaram com Ella para o mundo mágico do acreditar, o acreditar que quando abrimos a porta do nosso circo, não importa em que idade, a magia sempre acontece.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

A ponte entre em querer e fazer é longa


Eram 21hs de uma sexta-feira de maio, quando Gabriela recebeu a ligação...

Olhava para o écran do telemóvel a piscar o nome dele, o barulho do aparelho a vibrar em cima da mesa, misturava-se com o som de "Anyone else but you", a música que ela tinha definido como toque, a música que ela cantaralova há seis infinitos meses, a música deles...

Naqueles três minutos que o telemóvel tocou, Gabriela reviveu todo o tempo que passaram juntos, lembrou do dia em que o conheceu, ela sempre apressada, estava a caminho do trabalho e esbarrou nele na saída da biblioteca.

Pediu desculpas, mas nem olhou para o rosto de sua "vitima", saiu a correr, como sempre fez em todos os minutos da sua vida.
Na pressa acabou por deixar cair o cartão da biblioteca, que ele apanhou e foi entregar na recepção.
Mais tarde ele lhe contara, que a recepcionista, não quis lhe dar contacto de Gabi, mas ele afirmara que só entregava o cartão a dona, deixou o seu nº de telemóvel e disse para a recepcionista, uma loira carrancuda, que o desse para Gabriela.

Naquele mesmo dia Gabi ligou para a biblioteca a procura do cartão...

- Um rapaz o encontrou...mas disse que só o devolve pessoalmente...(respondeu entre os dentes a loira carrancuda)

- Ah!!! Como assim? Mas o cartão é meu! E você não disse nada? (perguntou Gabi indignada)

- Era só o que me faltava... (sussurrou a loira), Olhe ele deixou o nº de telemóvel, quer apontar?

- Sim, mas é claro, só não percebo porque...

- Então aponte aí...(a loira já tinha perdido a paciência), 962231581, apontou?

- Calma, 96... sim já está, mas ele não lhe disse como chamava-se?

- Pedro...é tudo?
- Sim obriga...(barulho de ligação terminada), caramba que mulher mal humorada...

Gabriela ligou para Pedro logo de seguida, quando ele atendeu pareceu que já estava a espera dela.
Combinaram de encontrarem-se, num café perto de sua casa, naquela mesma noite, Gabi achava aquele encontro desnecessário, afinal era muito mais fácil ele entregar o cartão na biblioteca, mas a verdade é que ela havia ficado curiosa, a voz dele a falar com ela, tinha qualquer coisa de intrigante.
- Andas sempre com pressa? (foi a primeira coisa que ele lhe disse)

- Eu...sim! Sou uma mulher muito ocupada. (Aquela situação era absurda, mas os olhos de Pedro eram ainda mais intrigantes que a sua voz)

- Tens ar de quem não vive, de quem está sempre a correr de um lado para o outro, e nem olha a sua volta... (O rosto de Pedro era a tranquilidade personificada, já o de Gabi...)

- Desculpa? Olha eu não queria ser indelicada, mas quem achas que és para andar aí a fazer definições do meu caráter? Dá-me o meu cartão por favor!

- Vês? até de ter a última palavra tens pressa, aposto que nem olhaste para mim quando deste me aquele encontrão hoje a tarde, aposto que nem sequer reconheces o meu rosto...

- (Mas que diabos...) Bem eu já pedi desculpas, e já lhe disse que sou uma mulher muito ocupada, por favor o meu cartão... Gabi tinha o rosto encarnado e a mão estendida para Pedro.

- Deves escrever isso 1000 vezes num caderno todos os dias para tu mesma acreditar no que dizes, mas tudo bem eu lhe dou o seu cartão, com uma condição...tens de tomar um copo comigo, e explicar-me porque és tão "ocupada".

Gabi ficou a olha perplexa para aquele homem, mas o sorriso de Pedro era tão tranquilo que ela acabou por ceder.

Depois daquela noite nunca mais separaram-se, encontravam-se todos os dias, e todos os dias Gabi apaixonava-se por Pedro, cada vez mais...

Entre os dois nunca houve algo a mais do que electricidade, ela tremia por dentro, todas as vezes que Pedro a olhava com os seus profundos olhos azuis, e quando ele tocava a sua mão, Gabriela sentia o seu coração dilacerado.

Treinou várias vezes dizer-lhe que o amava, mas todas as vezes que ganhava coragem para o fazer, Pedro começava o discurso da pressa de viver, "tens de aprender a travar", dizia ele...

E Gabi, que quando criança caia sempre de patins e de bicicleta pois não nunca aprendeu a usar os travões, abrandou...
Sentia-se cada vez mais leve, embora sentisse que aquela leveza não era ela, os seus olhos agora enxergavam coisas que antes ela nem sabia que existiam.

Perdeu a pressa do amor, ele estava ali na sua frente, e sabia que na hora certa ele a tomaria como sua.

Entretanto o tempo passou e nada aconteceu, ela esperou, esperou e Pedro nunca a amou.

Quando ele lhe apresentou a sua nova namorada, ela não entendeu aonde tinha errado, sofreu tanto que quase deixou-se cair.

- Esperei esse tempo todo por ti, e tu fazes-me isso? (disse uma Gabi de olhos inchados e rosto transtornado)

- Mas eu não entendo...tu nunca disseste nada...calculei que tu não me amavas...(respondeu um Pedro atrapalhado)

- Sempre disseste que eu tinha de abrandar, eu estava a tentar respeitar o teu tempo, mudei por ti...

As lágrimas rolavam cada vez mais rápido na sua face, ela sentia-se uma tola.

- Gabi... eu nunca quis que tu mudasses, eu amava-te da forma que eras, só queria que olhasses para mim...

Ela percebeu que sempre tinha sido feliz, e o único momento que realmente tinha lhe machucado, foi quando tentou ser algo que não era para ser amada, e mesmo assim não tinha parada para olhar quem realmente ele era.

Gabi virou as costas para Pedro e foi embora...

Agora, ali a olhar o telemóvel a piscar o nome dele, descobriu que nunca o amou, que ele tinha sido apenas mais um alguém que a tentou mudar, e o pior tinha conseguido, olhou para o espelho e não reconheceu-se, Pedro havia roubado mais do que seu tempo, roubara a sua identidade. Jamais poderia ter sido verdade, pois aquela pessoa reflectida no espelho era uma mentira.
Desligou a chamada, mudou o toque do aparelho, devolveu ao pulso o velho relógio de estimação, lavou as lágrimas do rosto, e escreveu mil vezes no caderno:
"Chamo-me Gabriela, sou uma mulher muito ocupada, e adoro isso."

Existem hábitos que são impossíveis de abandonar...

Devaneios

Lá vem aquela velha sensação de novo...de perder o que não se tem...
365 dias...o ano tem 365 dias, e para mim não é o bastante...em 365 dias eu não consigo terminar nada o que começo...
Sinto-me a afundar cada vez numa areia movediça, olho para dentro e não vejo nada, olho para fora e não vejo nada, está tudo sempre tão igual que fico enjoada.
E eu não quero mais escrever, porque esgotei as minhas palavras bonitas, a palavra que está sentada ao meu lado neste momento é feia.
Se calhar eu estava enganada, se calhar eu sou um acaso, algo que simplesmente aconteceu, mas não devia estar lá...e eu juro que eu tento...mas não consigo...
Não consigo ver a tal luz, me perdi no caminho, e não consigo encontrar-me...
Tantos sonhos destruídos, tantas palavras a voar com o vento...
Queria poder me agarrar ao ultimo fio de esperança, mas a verdade é que eu já não a tenho, nem um fio...
E pensar que tudo podia ser tão simples, logo eu que nunca quis muito, acabei sem nada...
Eu não sou daquelas pessoas negativas, que não gozam a vida, que não tentam ter um dia bom...simplesmente eu sou o que sou, o que transformaram-me com falsas promessas...
Não há nada para mim aqui, e me pergunto se em algum lugar há...
Fecho os olhos e vejo a menina Caroll, aquela que sonhava com mundos diferentes, que sentava na pedra escondida na praia e imaginava que um barco aportava ali na beira, e a levava embora, para um mundo distante, onde ela poderia ser ela mesma sem ser chamada de louca.
Tenho tanta pena dessa menina, dos sonhos que ela tinha, da inocência de achar que um dia seria aceita como ela realmente era...
Sou demasiado errada, tenho demasiados vícios, sou demasiado eu...
Hoje eu só queria sair de mim um pouco, e viajar no espaço, sentar numa pedra na praia, e poder descansar, eu estou tão cansada de ser eu a todo momento...
Ainda sonho com a velha Kombi, a minha Gioconda, nós duas na estrada, sem pensar no que ficou para trás, sem pensar no passado, sem pensar...naquele que um dia eu pensei...
O meu avô tinha razão..."as palavras voam com o vento..." e o que ficam são só as falsas verdades, a mentira embalada em papel de seda...tão atraente como um dia quente de verão.
Eu que sempre quis tão pouco, desejei ter tudo, e acabei de mãos e coração vazio...
Meu Deus...estou mesmo cansada...

quarta-feira, 29 de abril de 2009

O morro dos ventos uivantes



Heathcliff para Catherine.

“Catherine, praza a Deus que não tenha descanso enquanto eu viver! Disseste que eu te matei… pois persegue-me agora com o teu fantasma!… Sei que a vítima persegue o seu assassino. E sei que andam almas penadas pela terra. Fica comigo para sempre… toma qualquer forma… enlouquece-me! Mas não me deixes neste abismo onde não te possa encontrar! Oh, Senhor! É inexprimível! Não posso viver sem a minha vida! Não posso viver sem a minha alma!”


Catherine sobre Heathcliff.

“Se tudo perecesse, mas ele ficasse, eu continuaria a existir. E, se tudo permanecesse e ele fosse aniquilado, o mundo inteiro se tornaria para mim uma coisa totalmente estranha. (…) Nelly, eu sou Heathcliff!”


Caroll sobre "O morro dos ventos uivantes"

A primeira vez que vi e o li tinha por volta de 11 anos, naquela época fiquei fascinada com essa história, não entendia como o amor podia ser tão egoísta, vingativo e caprichoso, era tudo ao contrário do que eu encontrava nas poesias de Vinicius...
Hoje com 26 anos tudo fez sentido, e como disse-me alguém outro dia, existem vários tipos de amor, mas existem encontros que, com sorte, só acontecem uma vez na vida.
Como o de Catherine e Heathcliff...

Ir apenas ir...



No dia 25 de marco de 2001 ela partiu sem olhar para trás...

Ela sempre soube que não pertencia aquele lugar, e as pessoas faziam questão de confirmar a sua certeza todos os dias de sua vida.

Andava pelas ruas sentindo-se uma imigrante deslocada, a sua volta pessoas com semblantes diferentes, gostos diferentes, vida diferente, sonhos diferentes, tudo era igual e ela não encaixava-se naquela peça.

Durante anos ela imaginou aquela partida, imaginava-se dentro de um carro, um Ford Thunderbird, como o do filme "Thelma e Louise", ela pensava muito naquele filme, pois sempre admirou quem tem coragem de ir sem olhar para trás.

Oito anos depois, ela acorda e abre a janela de seu quarto, um quarto diferente, do outro lado do oceano, com pessoas e gostos diferentes, e até uma própria versão dela diferente.

E a mesma cena apareceu na sua cabeça, a cena final, o carro a voar nas montanhas...

Ela sempre quis voar, sonhava vezes sem contas que planava sem asas, mas no sonho tinha medo...

Agora na varanda, de braços abertos, como se fossem asas, e o vento a tocar a sua face de olhos fechados, ela só pensava no velho thunderbird, na sua cena final preferida, ela dentro do carro, com uma parte do seu mundo no banco de trás, e o seu outro eu no banco do lado, seguindo por uma estrada sem mapas, sem GPS, sem destino, seguindo para um mundo onde jamais seriam imigrantes, pois era um mundo construído por eles...

No filme Thelma e Louise transgrediram as leis, e não encontraram outra alternativa que voar com o Thunderbird pelas montanhas a baixo...

Eu própria estou a querer transgredir leis humanas e divinas, e até mesmo já posso considerar-me uma criminosa, já ultrapassei algumas linhas do bom senso, pergunto-me se teremos outra alternativa, se poderemos apenas seguir caminho no nosso Thunderbird, ou se teremos de voar pela ultima vez...

Quando ela vê um filme que não gosta do final, ela o reconstrui na sua cabeça, as vezes até acredita mesmo naquele final, e quando alguém diz que não foi assim, ela ri de si mesma, por ser tão aluada, se eu não gostar do meu final, será que o poderei reconstruir?

A única coisa que ela sabe neste momento, é a imagem que tem de si no carro, com a Cat Power a cantar Oasis no rádio, os seus cabelos a voar com o vento, o sorriso de canto de boca pintado na face, uma mão no volante e outra delicadamente preenchida.

Ela só quer ir sem olhar para trás.

terça-feira, 28 de abril de 2009

My Blueberry nigths



Acredito que existem filmes, livros, músicas e até imagens...que aparecem quando tem de aparecer...como se fosse o sussurrar de um anjo nos nossos ouvidos, como um recado celestial indicando o caminho que tens de seguir...ou somente para colorir um pouco a vida de quem vê a preto e branco.

Porque uma boa história merece sempre ser celebrada...meu pedacinho preferido de "My Blueberry nigths", porque eu sempre gostei de filosofias de café...


Norah: Acho que ando só a procura de uma razão...

Jude:
Bem pelo que tenho observado...as vezes é melhor não saber...e outras vezes não há razão nenhuma para encontrar...


Norah:
Tudo tem uma razão...


Jude:
Como estas tartes e estes bolos, no final de cada noite o cheesecake e a tarte de maça estão todos vendidos...a torta de pêssego e de chocolate estão no fim...mas fica sempre uma tarte de mirtilo inteira...


Norah:
Qual o problema da tarte de mirtilo?


Jude:
Nenhum, só que as pessoas fazem outras escolhas...não podes culpar a tarte de mirtilo, simplesmente ninguém a quer...


Norah:
Espera! Eu quero uma fatia...


Jude:
Com gelado...?


Norah:
Sim...


Porque as vezes as coisas simplesmente acontecem...sem razão alguma, porque as vezes "atravessar a rua só depende de quem está do outro lado..."