Lembra da primeira vez que bateste na minha porta? (mãos a afagar o meu cabelo)
A que porta te referes? (sorriso maroto)
(Sorriso de canto de boca) A porta da minha casa minha menina... (dedo tocando a ponta do meu nariz)
(Gargalhada) É claro que eu lembro, foi a coisa mais louca que fiz na vida.
(Olhos dengosos) Não te preocupes, ao meu lado ainda vais fazer muitas coisas loucas para juntar a esta tua primeira.
(Sorrindo com o corpo todo) E que os anjos digam Amém!!! (corpo a saltar para cima dele)
II Ato
Nos dias que decorreram sem Carlos Alberto, sem Ella, sem a Estranha e sem a Outra...mergulhei num tédio sem fim.
Nada mais tinha graça, e comecei a sentir o bafo frio da morte a assombrar o meu corpo.
Os pensamentos mais sombrios nasciam na minha alma, sentia-me terrivelmente só, mesmo estando rodeada de amigos e familiares.
De todos, era Ella que me fazia mais falta, na noite fatídica que tive o meu maior acto de estupidez de sempre, Ella gritou de fora para dentro.
Acusou-me de traição, afinal tínhamos feito um pacto, eu havia cedido o controle a ela, e retirei o seu poder sem pensar um segundo nos seus sentimentos.
Ella e Carlos era almas gémeas, cada um com seus defeitos e qualidades, mas tinham algo em comum...o respeito, Ella respeitava o facto de Carlos ser... diferente, e por sua vez Carlos respeitava o facto de Ella ser apenas uma alma presa em mim.
Houve um tempo, em que desejei ardentemente conhecer alguém como ele, na verdade este desejo era da Ella, mas acabou por tornar-se meu também, como ele nunca mais vinha, e eu sou ansiosa por natureza, o desejo acabou por ficar escondido algures na minha mente.
Esta foi a vingança de Ella, antes de partir desenterrou todos os seus, nossos, desejos que estavam perdidos na minha cabeça.
Saber que Carlos nada mais era que o resultado dos meus pedidos ao Universo, e as vezes ele responde de uma forma tão irónica, fez-me sentir tão idiota, pior ainda, fez-me sentir cega...mas até um cego teria visto o que os meus olhos negaram-se a ver...Carlos era eu, eu era Carlos.
Chorava todas as noites, a implorar que as minhas meninas voltassem, até da Outra eu sentia falta, pedi desculpas, pedi perdão, mas elas haviam herdado o meu pior defeito...o orgulho.
Sucumbi a dor e a tristeza de ser apenas mais um alguém com um corpo e apenas uma alma...
Apanhei um comboio para Lisboa, andei até a ponte 25 de Abril, se o faria, teria de ser ali.
Estava ali encostada nos arcos da ponte, vestida de preto, num luto prematuro, um luto meu, os carros passavam mas nem davam por mim, estava só, o vento frio batia na minha face, eu estava quente, não tinha medo...a decisão estava tomada, sem ele...sem elas...de qualquer forma eu não existia.
Eu cai, e as levei comigo...
"Desculpa", disseram-me no preciso momento que meu corpo balançou para fora da ponte.
"Ao menos estamos juntas outra vez..." Disse eu a voar no espaço...
Foi quando o vi, ele estava sentado, no escritório escuro, apenas iluminado pela luz do écran, os olhos estavam vermelhos, cheios de lágrimas...
No noticiário, um repórter mal vestido dava a noticia da minha morte...
"Ontem a noite, uma jovem de 26 anos, brasileira, atirou-se da ponte 25 de Abril, a policia e os bombeiros ainda estão a procura do seu corpo no Tejo..."
Nunca o vão encontrar...disse Ella
Mas do que estás a falar...???
Neste mesmo momento o despertador tocou...foi só um sonho???
Ella, Ella!!!
Estou aqui sua tonta.
Onde estão as outras?
Oh Caroll, estamos todas aqui...
O que vamos fazer?
(Risos)
Como se tu já não soubesses a resposta...
III Ato
Era noite, a estrada desaparecia rapidamente atrás de mim, no banco de trás estavam sentadas Ella, a Estranha e a Outra, todas a sorrir.
Ao meu lado, um fato pendurado num cabide dizia com uma voz muda: "Vai dar certo..."
Quando cheguei ao meu destino, as três seguiram atrás de mim a dar-me coragem.
Subi as escadas até o 1 andar, respirei fundo e bati na porta...
IV Ato
Quando ela perguntou-nos o que fazer, respondemos o óbvio, ela riu-se tanto da resposta, que não conseguimos evitar de sorrir também.
É preciso entender que ela é uma alma nova, fez poucas viagens, por isso, as vezes, é um pouco limitada, mas quando foi criada recebeu o maior dos dons... o de amar incondicionalmente, e por amor ela se dava. por amor ela transformava-se.
Carlos abriu a porta, e ficou perplexo com a visão grotesca que estava diante dos seus olhos...uma Caroll vestida de fato branco e uma garbadina castanha, sapatos de vinil, um distinto chápeu na cabeça, encostada na parede a fumar um cigarro, tentando fazer a melhor imitação de Humphrey Bogart, em Casablanca, que conseguia...
Carlos Alberto não se conteve, e desatou a rir...
Caroll, com um gesto sedutor, levantou a perna e deixou aparecer um pouquinho da meia de renda preta transparente que tinha de baixo da calça masculina.
"És uma princesinha linda sabia?" disse Carlos com um mão no queixo, e outra na cintura de Caroll.
Ele tirou o chápeu dela, e bagunçou os seus cabelos castanhos claro, com os dedos, agarrou na sua nuca, e deu-lhe um beijo digno de uma cena de cinema.
V Ato
Oh deixa eu adivinhar Ella...e viveram felizes para sempre...?
Caramba Outra, como você é enjoadinha...
Não Estranha, a Outra tem razão, a felicidade não é diária, até porque se o fosse virava rotina, e rotina dá tédio, e o que é certo é que com Carlos e Caroll, a rotina é carta fora do baralho.
The (Happy?) End