sábado, 18 de abril de 2009

O mundo ao contrário



Era noite, fazia um frio de cortar a respiração, e eu caminhava numa estrada qualquer, vestida apenas com um velho pijama, azul, de verão, que já nem existe mais.

A estrada era de alcatrão, tinha os pés calçados com as hawaianas laranjinhas que meu pai havia mandado do Brasil uns Verões atrás, e caminhava com o meu longo cabelo castanho escuro voando com o vento...

Um carro parou ao meu lado, era preto, com os vidros escuros, tinha o rádio no ultimo volume a gritar "Alive" dos Pearl Jam, a porta do carona abriu, e uma mão saiu a me convidar a entrar.

Era dia, fazia um calor de 50º, e eu caminha numa estrada qualquer, vestida com o meu velho casaco castanho, que já nem existe mais.

A estrada era de terra, tinha os pés calçados com as botas de cano alto que comprei para passagem de ano de uns anos atrás, caminhava com o meu curto cabelo loiro a voar com o vento...

Um carro parou ao meu lado, era vermelho, os vidros eram escuros, e toda a sua lactaria vibrava com os Audioslave a gritar "Shadow on the sun" aos altos berros, a porta do carona abriu, e uma voz muda convidou-me a entrar.

Era uma tarde de chuva, e eu estava sentada com a cabeça enterrada no meio dos joelhos, numa estrada de flores mortas, no meu corpo não tinha nada vestido, tinha duas cicatrizes rosáceas em cada lado das costas, os meus cabelos castanhos claros batiam nos ombros, os meus olhos eram negros, os meus pés estavam descalços, e dos meus olhos saiam fios de sangue.

Levantei-me e estava vestida de flores, das duas cicatrizes saíram dois pares de asas, os meus olhos negros tornaram-se cor de mel, e os meus cabelos brilhavam como o mar no verão.

Um carro parou ao meu lado, eu não olhei, não vi a cor, tapei os ouvidos, não ouvi a canção, quando estava prestes a descolar, uma mão pousou no meu ombro, exitei por um segundo e olhei nos seus olhos, derrepente uma luz cegou-me, caí no chão horrorizada, e senti o meu corpo ser levantado do chão, quando dei por mim estava no interior do carro, o rádio tocava baixinho "Love you till the end" dos The Pogues, não conseguia virar o rosto para o encarar.

Concentrei a minha visão no espelho retrovisor, com a imagem da estrada a desaparecer atrás de nós, sentia o pavor a tomar conta do meu corpo, mas era um pavor estranho, tive de juntar toda a força que tinha para conseguir dizer sem gaguejar:

"Para onde estas a me levar?"

Uma gargalhada sarcástica deu a voz ao meu companheiro misterioso, a resposta seguinte foi a ultima coisa que ouvi:

"Oh minha menina, tu é que estás a me levar..."
Foi quando reparei que estava sentada no banco do condutor, as minhas mãos tremulas seguravam o volante, olhei no espelho e no banco de trás estavam sentadas três mulheres a sorrir.


E a estrada ficava sempre para trás, de nós...

Sonho da noite de 16 de Abril de 2009

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