quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Intemporal


-Ela... Ela...

Chamava aquela voz que me era tão familiar... só havia um ser que me tratava por este nome.

-Sim...

Murmurei...não tinha vontade nenhuma de o responder, já tínhamos tido aquele encontro várias vezes, e o facto de ele estar a se repetir não era um bom sinal...

-Ela, disse a voz, abra os olhos...

Era mais uma ordem do que um pedido, mas a sua entoação era delicada como se estivesse a me fazer um pedido doloroso.

Obedeci...

-Assim está melhor, apesar de eu não poder ver o seu rosto, sabia que ele estava a sorrir...

-O que aconteceu de errado desta vez Ela...

Ele sabia, mas mesmo assim perguntava, sempre perguntava, nunca entendi se o fazia por capricho, ou por uma sabedoria paternal que escapava completamente da minha percepção.

-Sabes bem o que aconteceu, disse em voz de desafio, sempre o desafiava...em vão...

-Ela... disse a voz em tom de reprovação.

-Ele não me reconheceu... respondi por fim, com todo o meu corpo a tremer de dor...

-Entendo... Não ele não entendia, não sabia o quanto eu sofria por ter de estar a repetir aquela conversa.

-Não acha que já chegou o momento de desistir Ela...?

A voz me testava, ele sabia que nunca desistiria, mas ele sempre me testava...

-Nunca! Respondi com o mesma ênfase corajosa que sempre o respondia.

-Oh Ela... Parece que isso nunca mais vai ter fim...

-Que não tenha fim então, que eu viva para toda a eternidade a viver apenas das nossas despedidas, já é alguma coisa.

A voz sabia que eu estava a mentir, não era o suficiente, nunca foi...

-Basta uma palavra sua Ela... e vocês poderiam ficar juntos... tem certeza?

-Ficaríamos juntos sim, mas incompletos... não importa quanto tempo demore, nós conseguiremos, eu tenho a certeza que sim.

-A imperfeição lhe deixou ainda mais arrogante, como se isso fosse possível.

As palavras eram duras, mas a voz era suave e carinhosa, ele não queria me magoar, de certa forma queria que o meu sofrimento acabasse, mas não cabia a ele decidir.

-Eu sei o amor que tu tens por mim, mas o que está em jogo é algo muito maior, e tu o sabes.

-Sim, é verdade, e é por isso que eu sempre permito que voltem a tentar, mas Ela... ainda tens fé neste amor?

Oh mais uma vez aquela pergunta, odiava mortalmente aquela questão, mas tinha de responder...

-Este amor é a minha única morada, é o meu único ar, é a minha única sabedoria, este amor é tudo o que eu sou e o que eu tenho, sim...ainda tenho fé neste amor, e nunca deixarei de ter, nem que seja por ele, e apenas por ele...

A voz sorria...

-Vais acordar de novo Ela... e quando acordar terás outro nome...tem cuidado minha pequena.

Fechei os olhos, tudo o que eu sabia deixaria de saber, e seria guiada apenas pelo meu instinto, mais uma vez... Mas eu não tinha medo, eu sabia que o iria encontrar, e desta vez...

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