
Eram 21hs de uma sexta-feira de maio, quando Gabriela recebeu a ligação...
Olhava para o écran do telemóvel a piscar o nome dele, o barulho do aparelho a vibrar em cima da mesa, misturava-se com o som de "Anyone else but you", a música que ela tinha definido como toque, a música que ela cantaralova há seis infinitos meses, a música deles...
Naqueles três minutos que o telemóvel tocou, Gabriela reviveu todo o tempo que passaram juntos, lembrou do dia em que o conheceu, ela sempre apressada, estava a caminho do trabalho e esbarrou nele na saída da biblioteca.
Pediu desculpas, mas nem olhou para o rosto de sua "vitima", saiu a correr, como sempre fez em todos os minutos da sua vida. Na pressa acabou por deixar cair o cartão da biblioteca, que ele apanhou e foi entregar na recepção.
Mais tarde ele lhe contara, que a recepcionista, não quis lhe dar contacto de Gabi, mas ele afirmara que só entregava o cartão a dona, deixou o seu nº de telemóvel e disse para a recepcionista, uma loira carrancuda, que o desse para Gabriela.
Naquele mesmo dia Gabi ligou para a biblioteca a procura do cartão...
- Um rapaz o encontrou...mas disse que só o devolve pessoalmente...(respondeu entre os dentes a loira carrancuda)
- Ah!!! Como assim? Mas o cartão é meu! E você não disse nada? (perguntou Gabi indignada)
- Era só o que me faltava... (sussurrou a loira), Olhe ele deixou o nº de telemóvel, quer apontar?
- Sim, mas é claro, só não percebo porque...
- Então aponte aí...(a loira já tinha perdido a paciência), 962231581, apontou?
- Calma, 96... sim já está, mas ele não lhe disse como chamava-se?
- Pedro...é tudo?
- Sim obriga...(barulho de ligação terminada), caramba que mulher mal humorada...
Gabriela ligou para Pedro logo de seguida, quando ele atendeu pareceu que já estava a espera dela.
Combinaram de encontrarem-se, num café perto de sua casa, naquela mesma noite, Gabi achava aquele encontro desnecessário, afinal era muito mais fácil ele entregar o cartão na biblioteca, mas a verdade é que ela havia ficado curiosa, a voz dele a falar com ela, tinha qualquer coisa de intrigante.
- Andas sempre com pressa? (foi a primeira coisa que ele lhe disse)
- Eu...sim! Sou uma mulher muito ocupada. (Aquela situação era absurda, mas os olhos de Pedro eram ainda mais intrigantes que a sua voz)
- Tens ar de quem não vive, de quem está sempre a correr de um lado para o outro, e nem olha a sua volta... (O rosto de Pedro era a tranquilidade personificada, já o de Gabi...)
- Desculpa? Olha eu não queria ser indelicada, mas quem achas que és para andar aí a fazer definições do meu caráter? Dá-me o meu cartão por favor!
- Vês? até de ter a última palavra tens pressa, aposto que nem olhaste para mim quando deste me aquele encontrão hoje a tarde, aposto que nem sequer reconheces o meu rosto...
- (Mas que diabos...) Bem eu já pedi desculpas, e já lhe disse que sou uma mulher muito ocupada, por favor o meu cartão... Gabi tinha o rosto encarnado e a mão estendida para Pedro.
- Deves escrever isso 1000 vezes num caderno todos os dias para tu mesma acreditar no que dizes, mas tudo bem eu lhe dou o seu cartão, com uma condição...tens de tomar um copo comigo, e explicar-me porque és tão "ocupada".
Gabi ficou a olha perplexa para aquele homem, mas o sorriso de Pedro era tão tranquilo que ela acabou por ceder.
Depois daquela noite nunca mais separaram-se, encontravam-se todos os dias, e todos os dias Gabi apaixonava-se por Pedro, cada vez mais...
Entre os dois nunca houve algo a mais do que electricidade, ela tremia por dentro, todas as vezes que Pedro a olhava com os seus profundos olhos azuis, e quando ele tocava a sua mão, Gabriela sentia o seu coração dilacerado.
Treinou várias vezes dizer-lhe que o amava, mas todas as vezes que ganhava coragem para o fazer, Pedro começava o discurso da pressa de viver, "tens de aprender a travar", dizia ele...
E Gabi, que quando criança caia sempre de patins e de bicicleta pois não nunca aprendeu a usar os travões, abrandou...
Sentia-se cada vez mais leve, embora sentisse que aquela leveza não era ela, os seus olhos agora enxergavam coisas que antes ela nem sabia que existiam.
Perdeu a pressa do amor, ele estava ali na sua frente, e sabia que na hora certa ele a tomaria como sua.
Entretanto o tempo passou e nada aconteceu, ela esperou, esperou e Pedro nunca a amou.
Quando ele lhe apresentou a sua nova namorada, ela não entendeu aonde tinha errado, sofreu tanto que quase deixou-se cair.
- Esperei esse tempo todo por ti, e tu fazes-me isso? (disse uma Gabi de olhos inchados e rosto transtornado)
- Mas eu não entendo...tu nunca disseste nada...calculei que tu não me amavas...(respondeu um Pedro atrapalhado)
- Sempre disseste que eu tinha de abrandar, eu estava a tentar respeitar o teu tempo, mudei por ti...
As lágrimas rolavam cada vez mais rápido na sua face, ela sentia-se uma tola.
- Gabi... eu nunca quis que tu mudasses, eu amava-te da forma que eras, só queria que olhasses para mim...
Ela percebeu que sempre tinha sido feliz, e o único momento que realmente tinha lhe machucado, foi quando tentou ser algo que não era para ser amada, e mesmo assim não tinha parada para olhar quem realmente ele era.
Gabi virou as costas para Pedro e foi embora...
Agora, ali a olhar o telemóvel a piscar o nome dele, descobriu que nunca o amou, que ele tinha sido apenas mais um alguém que a tentou mudar, e o pior tinha conseguido, olhou para o espelho e não reconheceu-se, Pedro havia roubado mais do que seu tempo, roubara a sua identidade. Jamais poderia ter sido verdade, pois aquela pessoa reflectida no espelho era uma mentira.
Desligou a chamada, mudou o toque do aparelho, devolveu ao pulso o velho relógio de estimação, lavou as lágrimas do rosto, e escreveu mil vezes no caderno:
"Chamo-me Gabriela, sou uma mulher muito ocupada, e adoro isso."
Existem hábitos que são impossíveis de abandonar...
3 comentários:
Gabi fez muito bem em não atender o telefone!
Esses homens muito sedutores são na verdade uns covardes, uns inseguros, querem TODAS as mulheres do mundo mas não se envolvem com ninguém..Medo! morrem de medo!
Preferem a segurança de uma vida solitária (mas cercado de mulheres carentes e apaixonadas) do que se entrgar de verdade.
Quando muito escolhem uma bem simplesinha, uma mulher bem normalzinha, caretinha, dessas que não fedem nem cheiram, que não perguntam nada e nem percebem quando eles broxam!
Portando, acho que Gabi só perdeu mesmo foi o tempo, mais nada..mas tempo se recupera, e o melhor SEMPRE ainda está por vir!
P.S
belo conto Caroll
oi Caroll,
Já leio teu blog faz algum tempo, e percebo mudanças..
Só comentei agora porque estou lendo os comentários do P.C. e concordo plenamente com ele!
Scho que o P.C. deveria se revelar, você não acha? Até eu estou curiosa! Acho que você deveria dar bastante atenção ao que ele lhe escreve...
Beijos!
....uma vez sedutor, sempre sedutor....
Enviar um comentário