sexta-feira, 1 de maio de 2009

A ponte entre em querer e fazer é longa


Eram 21hs de uma sexta-feira de maio, quando Gabriela recebeu a ligação...

Olhava para o écran do telemóvel a piscar o nome dele, o barulho do aparelho a vibrar em cima da mesa, misturava-se com o som de "Anyone else but you", a música que ela tinha definido como toque, a música que ela cantaralova há seis infinitos meses, a música deles...

Naqueles três minutos que o telemóvel tocou, Gabriela reviveu todo o tempo que passaram juntos, lembrou do dia em que o conheceu, ela sempre apressada, estava a caminho do trabalho e esbarrou nele na saída da biblioteca.

Pediu desculpas, mas nem olhou para o rosto de sua "vitima", saiu a correr, como sempre fez em todos os minutos da sua vida.
Na pressa acabou por deixar cair o cartão da biblioteca, que ele apanhou e foi entregar na recepção.
Mais tarde ele lhe contara, que a recepcionista, não quis lhe dar contacto de Gabi, mas ele afirmara que só entregava o cartão a dona, deixou o seu nº de telemóvel e disse para a recepcionista, uma loira carrancuda, que o desse para Gabriela.

Naquele mesmo dia Gabi ligou para a biblioteca a procura do cartão...

- Um rapaz o encontrou...mas disse que só o devolve pessoalmente...(respondeu entre os dentes a loira carrancuda)

- Ah!!! Como assim? Mas o cartão é meu! E você não disse nada? (perguntou Gabi indignada)

- Era só o que me faltava... (sussurrou a loira), Olhe ele deixou o nº de telemóvel, quer apontar?

- Sim, mas é claro, só não percebo porque...

- Então aponte aí...(a loira já tinha perdido a paciência), 962231581, apontou?

- Calma, 96... sim já está, mas ele não lhe disse como chamava-se?

- Pedro...é tudo?
- Sim obriga...(barulho de ligação terminada), caramba que mulher mal humorada...

Gabriela ligou para Pedro logo de seguida, quando ele atendeu pareceu que já estava a espera dela.
Combinaram de encontrarem-se, num café perto de sua casa, naquela mesma noite, Gabi achava aquele encontro desnecessário, afinal era muito mais fácil ele entregar o cartão na biblioteca, mas a verdade é que ela havia ficado curiosa, a voz dele a falar com ela, tinha qualquer coisa de intrigante.
- Andas sempre com pressa? (foi a primeira coisa que ele lhe disse)

- Eu...sim! Sou uma mulher muito ocupada. (Aquela situação era absurda, mas os olhos de Pedro eram ainda mais intrigantes que a sua voz)

- Tens ar de quem não vive, de quem está sempre a correr de um lado para o outro, e nem olha a sua volta... (O rosto de Pedro era a tranquilidade personificada, já o de Gabi...)

- Desculpa? Olha eu não queria ser indelicada, mas quem achas que és para andar aí a fazer definições do meu caráter? Dá-me o meu cartão por favor!

- Vês? até de ter a última palavra tens pressa, aposto que nem olhaste para mim quando deste me aquele encontrão hoje a tarde, aposto que nem sequer reconheces o meu rosto...

- (Mas que diabos...) Bem eu já pedi desculpas, e já lhe disse que sou uma mulher muito ocupada, por favor o meu cartão... Gabi tinha o rosto encarnado e a mão estendida para Pedro.

- Deves escrever isso 1000 vezes num caderno todos os dias para tu mesma acreditar no que dizes, mas tudo bem eu lhe dou o seu cartão, com uma condição...tens de tomar um copo comigo, e explicar-me porque és tão "ocupada".

Gabi ficou a olha perplexa para aquele homem, mas o sorriso de Pedro era tão tranquilo que ela acabou por ceder.

Depois daquela noite nunca mais separaram-se, encontravam-se todos os dias, e todos os dias Gabi apaixonava-se por Pedro, cada vez mais...

Entre os dois nunca houve algo a mais do que electricidade, ela tremia por dentro, todas as vezes que Pedro a olhava com os seus profundos olhos azuis, e quando ele tocava a sua mão, Gabriela sentia o seu coração dilacerado.

Treinou várias vezes dizer-lhe que o amava, mas todas as vezes que ganhava coragem para o fazer, Pedro começava o discurso da pressa de viver, "tens de aprender a travar", dizia ele...

E Gabi, que quando criança caia sempre de patins e de bicicleta pois não nunca aprendeu a usar os travões, abrandou...
Sentia-se cada vez mais leve, embora sentisse que aquela leveza não era ela, os seus olhos agora enxergavam coisas que antes ela nem sabia que existiam.

Perdeu a pressa do amor, ele estava ali na sua frente, e sabia que na hora certa ele a tomaria como sua.

Entretanto o tempo passou e nada aconteceu, ela esperou, esperou e Pedro nunca a amou.

Quando ele lhe apresentou a sua nova namorada, ela não entendeu aonde tinha errado, sofreu tanto que quase deixou-se cair.

- Esperei esse tempo todo por ti, e tu fazes-me isso? (disse uma Gabi de olhos inchados e rosto transtornado)

- Mas eu não entendo...tu nunca disseste nada...calculei que tu não me amavas...(respondeu um Pedro atrapalhado)

- Sempre disseste que eu tinha de abrandar, eu estava a tentar respeitar o teu tempo, mudei por ti...

As lágrimas rolavam cada vez mais rápido na sua face, ela sentia-se uma tola.

- Gabi... eu nunca quis que tu mudasses, eu amava-te da forma que eras, só queria que olhasses para mim...

Ela percebeu que sempre tinha sido feliz, e o único momento que realmente tinha lhe machucado, foi quando tentou ser algo que não era para ser amada, e mesmo assim não tinha parada para olhar quem realmente ele era.

Gabi virou as costas para Pedro e foi embora...

Agora, ali a olhar o telemóvel a piscar o nome dele, descobriu que nunca o amou, que ele tinha sido apenas mais um alguém que a tentou mudar, e o pior tinha conseguido, olhou para o espelho e não reconheceu-se, Pedro havia roubado mais do que seu tempo, roubara a sua identidade. Jamais poderia ter sido verdade, pois aquela pessoa reflectida no espelho era uma mentira.
Desligou a chamada, mudou o toque do aparelho, devolveu ao pulso o velho relógio de estimação, lavou as lágrimas do rosto, e escreveu mil vezes no caderno:
"Chamo-me Gabriela, sou uma mulher muito ocupada, e adoro isso."

Existem hábitos que são impossíveis de abandonar...

3 comentários:

P.C disse...

Gabi fez muito bem em não atender o telefone!
Esses homens muito sedutores são na verdade uns covardes, uns inseguros, querem TODAS as mulheres do mundo mas não se envolvem com ninguém..Medo! morrem de medo!
Preferem a segurança de uma vida solitária (mas cercado de mulheres carentes e apaixonadas) do que se entrgar de verdade.
Quando muito escolhem uma bem simplesinha, uma mulher bem normalzinha, caretinha, dessas que não fedem nem cheiram, que não perguntam nada e nem percebem quando eles broxam!
Portando, acho que Gabi só perdeu mesmo foi o tempo, mais nada..mas tempo se recupera, e o melhor SEMPRE ainda está por vir!

P.S
belo conto Caroll

Anónimo disse...

oi Caroll,
Já leio teu blog faz algum tempo, e percebo mudanças..

Só comentei agora porque estou lendo os comentários do P.C. e concordo plenamente com ele!

Scho que o P.C. deveria se revelar, você não acha? Até eu estou curiosa! Acho que você deveria dar bastante atenção ao que ele lhe escreve...

Beijos!

Anónimo disse...

....uma vez sedutor, sempre sedutor....